A noite de hoje foi muito agitada. Menotti Del
Picchia abriu o espetáculo com a palestra “Arte Moderna”, cuja reivindicação de
liberdade provocou apartes e vaias. Jovens escritores também foram se apresentar e declamaram versos modernos.
Mário de
Andrade acabou comentando depois de sua apresentação: “Mas como tive
coragem pra dizer versos diante duma vaia tão barulhenta que eu não escutei do
palco o que Paulo Prado me gritava da primeira fileira das poltronas?... Como
pude fazer uma conferência sobre artes plásticas na escadaria do Teatro,
cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a valer?...”.
Contudo até o Ronald Carvalho ousou ler o clássico poema
de Manuel Bandeira, Os Sapos. Por entre irônias do público sobre o refrão “Foi! -
Não Foi!”, mas Ronald não se deixou abater e o lêu por completo:
Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!”.
- "Não foi!" -
"Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro ”
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
As fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
“Mas há artes poéticas...”
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"-
"Foi! ".
- "Não foi!" -
"Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
“Canta no martelo”.
Outros sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não
sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é.
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
Apesar da diversidade com que o público tentou nos calar, um sopro insólido foi dirigido para as próximas gerações. Contudo, todo esse público
ingrato de pensamentos parnasianos irá se render à nossa visão nacionalista,
porém crítica, da realidade brasileira.
Observe o uso dos tempos verbais:passado e futuro,na primeira parte do texto.Atente também para a grafia da palavra "irônias".
ResponderExcluirCerto, irei editar e reler o texto..
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